O cheiro de mãe

Divido aqui com vocês um trecho do que li na exposição “Viva Pagu”, na Casa das Rosas, em São Paulo, nesta quarta-feira. O texto escrito pelo filho de Patrícia Galvão, Rudá, sensibilizou-me, pois, na verdade, todos nós, filhos, compreendemos bem a sua observação:

“O cheiro de minha mãe era atípico. Não era perfume, não era hálito nem os cabelos. Era cheiro de mãe. Na verdade não sei se mãe tem cheiro para cada filho; se tem, creio que para este o perceber seria necessário uma longa separação. O fato é que o cheiro dela era diferente e nela sempre permaneceu em qualquer circunstância (…)”.

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Creio que muitos cheiros, sons ou sensações se perdem à medida que nos tornamos adultos. Os ingredientes podem ter mudado muito ou o nosso paladar que deixou de ser inocente e espontâneo.

Contudo, há um cheiro que nunca muda, permanece vivo no depósito do nosso olfato: o cheiro de mãe. A minha usou diversos perfumes desde que eu nasci, mas o odor é sempre o mesmo, não muda.

Quando pequena, esperando ansiosa ela chegar do trabalho, beijava-a, permitindo que aquele cheiro ficasse em mim: queria materializar aquele amor imenso no meu rosto e nos meus bracinhos que tinham dificuldade em contornar o pescoço de minha mãe.

Sentir o cheiro materno provoca nosso instinto animal. Somos crias da fêmea que nos alimenta, acolhe, dá conforto, quentura e paz. É um cheiro que carrega um rugido de leoa, a respiração de um passarinho e o amor mais infinito.